domingo, 25 de dezembro de 2011

Quando, sem querer, fiquei transparente

Hoje, enquanto eu esperava o ônibus, uma menininha de 7 anos, negra, sentou ao meu lado e logo foi puxando assunto. Veio me dizer que ganharia de presente uma sandália igual a minha. Eu, que quase não gosto de crianças (logo me apaixono por elas, isso sim), comecei a perguntar de quem ganharia e dizer que estava muito bonita no seu modelito cor-de-rosa. Não me recordo o nome dela, sou péssima pra nomes, lembraria se ela tivesse dito umas três vezes pelo menos, mas me disse apenas uma vez. O que gostou e não parava de repetir foi do meu nome, segundo ela, igual ao da menina da sua novela preferida.
Me mostrou de longe quem era sua mãe, a qual não parecia se preocupar com as crianças um pouco distantes. A menininha estava acompanhada pelo irmão de 5 anos. Me contaram que estavam vindo da festa do trabalho da mãe e que lá tinham visto o Papai Noel e brincado em vários brinquedos. Imagino as muitas estripulias que fizeram, mas ainda assim seus cabelinhos crespos estavam lindamente presos e nem um pouco emaranhados, estavam os dois bem arrumadinhos. Ela, faladeira, continuou me contando sobre o que fizeram la, interrompida as vezes pelo irmão ficava irritada.
Faltava ainda o que deixaria aquele momento mais agradável e, porque não… Tento encontrar uma palavra, mas não sei se é necessário. Vejam: Enquanto ela falava empolgada sobre tudo houve uma pausa na conversa e ela parou olhando fixamente pra mim por um tempo. Deixei que ela olhasse, parecia procurar algo. Foi quando disse, de um jeito bonitinho com o seus lábios escuros e bem cheios:
- Seu olho é da cor do meu.
De fato, nossos olhos tinham a mesma cor. Me chamou a atenção a forma compenetrada com a qual ela disse isso e procurei não questionar, mas agradecer pelo privilégio de estar conversando com alguém que me enxergou de um jeito tão profundo, alguém tão pequeno, afinal, e tão gigante. Diante de peles tão distintas ela disse que o meu olho era igual ao dela e ainda grifou:
-A parte de dentro, né? A bolinha!
-E é com ela que a gente enxerga, é isso que importa! Respondi.
Provavelmente não iremos nos encontrar novamente, mas desejo, do fundo do meu coração, as coisas mais lindas ao coração dessa menina, e que os seus valores, certamente nascidos e herdados da alma, cresçam cada vez mais.

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