Sabe aqueles dias sem inspiração? Aqueles que ninguém merece. Mas eu mereço por ser tão mal agradecida, mal humorada, e por ter dado tantas bolas foras por esses dias. Tá, deixa pra lá. Esquece, é só besteira minha. É só mania de me torturar, de tentar convencer o mundo de que eu to louca e que nada disso é normal. Não, não tem como. Uma pessoa normal não faria isso, nem aquilo, não se atreveria, não ficaria quieta, não falaria nada. Se eu pudesse me programar seria tão mais fácil. Num momento de sanidade tudo estaria planejado pra que a loucura, de fato existente, não tomasse conta de tudo em mim, só de uma parte, um pedacinho só. E eu já não sei o que fazer pra amar em paz, te olhar em paz, abraçar sem medo nem incertezas. Acima de todas as coisas e de tudo que sofri pelo simples fato de querer sofrer ainda continuo com a mania burra, ou não, de achar que vale a pena. Vale porque vale. Porque nenhum momento ao seu lado é por acaso.
Por fim ganho um fiozinho de uma 'meia inspiração' que empresto dela sem dúvida, "...nenhum momento ao seu lado é por acaso", "O Contrato". Tati Bernardi, ela sim perfeita. Tantas vezes em momentos assim de térreo ou subsolo peguei emprestado um dos textos dela e hoje torno a fazer. Sempre vale a pena ler o que a Tati escreve, ela é alma pura da primeira a ultima palavra. Todo o meu desespero de não conseguir escrever (uma fase que vai passar) acaba assim que abro a minha infinita coleção dessas palavras tão bem encaixadas e desenhadinhas.Hoje me dei o direito de emprestar palavras, talvez por estar totalmente sem elas, talvez porque hoje meu olhar dissesse muito mais coisas."Ela existe", um dos que eu mais gosto. Ela existe? Seria ironia pura se esse ELA não fosse a... Leiam vocês vão descobrir. Se encantem...
Ela existe
Encontrei a danada, mas ela fugiu. Pouco depois a encontrei de novo, mas ela disse que estava atrasada e eu entendi com preguiça de filosofar. Mais tarde ela voltou sem falar nada e se enfiou comigo embaixo das cobertas, quentinha. Só foi embora quando o relógio despertou rasgando o conforto, estava frio. Durante o dia ela voltou em situações bobas como o sorriso do menino mais lindo do mundo, a bolacha de chocolate que eu lembrei que tinha na gaveta e um título engraçadinho que eu fiz e foi aprovado pelo cliente. Ela ia e voltava, ia e voltava: como a vida. Linear são os batimentos cardíacos da morte. A noite ela apareceu na porta do meu banheiro, fez tanta força que entrou mesmo com a porta fechada. Focinhou a porta do box e me mostrou a bolinha de brinquedo me chamando para brincar, ao mesmo tempo entrou pela janela revestida de cheiro de hambúrguer. Veio em dose dupla.As vezes ela desaparece durante tanto tempo que me falta o ar. Dá uma saudade louca, ela deixa um vazio depressivo, um buraco. Ela me deixa mais uma e eu odeio ser mais uma. Não posso negar a dependência que eu tenho dela. Mas eu aprendi, finalmente, eu aprendi que ela não aparece apenas numa grande história de amor, numa viagem com tudo pago para Paris ou numa bufunfa boa lá na minha conta bancária carente. Ela também dá as caras pelo lado simples da vida, ontem apareceu numa tomada. Eu estava numa sala de espera lotada, esperando para abrir as pernas naquela cama da tortura e ouvir da minha ginecologista que sim, vai doer, mas é para o meu bem. E ela apareceu. Eu precisava recarregar meu celular para saber o que o esquisito tinha deixado na minha caixa postal e uma tomada apareceu do meu lado, foi só afastar um pouco as revistas Caras e outras do mesmo gênero (enquanto você espera para saber como vai sua vagina você fica sabendo como vai a vagina das outras). E lá estava o recado dele, esquisito como sempre, mas com aquela voz lacônica e charmosa. A felicidade entrou com o pé na porta e sentou ao meu lado. Eu não estava mais sozinha esperando o especulo. O trânsito todo parado e ela acena no carro ao lado, depois morre de vergonha e toma bronca do pai para sentar direito na cadeirinha. O dia meio cinzento, vai-não-vai e de repente ela surge amarela e esquenta a vida. Ela mora numa gaveta cheia de bobeirinhas lá em casa, que tem nariz de palhaço de festa louca, cartinha de amor antiga, fotos da minha bochecha quando eu tinha cinco anos e lembranças de carinho em flores secas. Ela toma banho comigo quando a água leva embora coisa ruim e renova a alma e dorme ao meu lado quando eu descanso depois do almoço de domingo com o meu pai que eu não vejo a semana toda. Ela é virtual na comunidade que criaram para mim no Orkut, chama-se Tati Bernardi, e ela é fantasma quando eu lembro do meu avô dizendo que eu era a mulher mais linda do mundo. A mulher mais linda do mundo pequeno do meu avô. A felicidade mora num mundo pequeno seu e não naquele grande que faz você se perder demais. A felicidade é simples, e quando você descobre isso ela deixa de ser uma espera e passa a ser um minuto, um segundo. E é de minutos e segundos que se faz a vida. E aí você perde menos tempo esperando e mais tempo vivendo. Entre o piegas e o chavão, é assim que ando por aí vivendo a vida intensamente sem esperar momentos intensos. Você já tentou? Já tentou não imaginar a sua felicidade na outra festa que você estaria se não estivesse nessa e encontrar a sua felicidade onde você está? Tente, pode ser numa música boba, pode ser num amigo que você não via há muito tempo. Pode ser morrendo de rir de uma noite mico, por que não? Eu sempre esperei viver uma história de cinema, ouvir cantadas de filme francês, ganhar salário de estrela, ter amigos de sitcom, corpo de capa de revista e enterro de celebridade. Ai eu lembrei que os filmes de que eu mais gosto são aqueles despretenciosos que contam a história de uma pessoa idiota como eu.
Concordo com tudo, do início ao fim ^^ "...que contam a história de uma pessoa idiota como eu." Idiota como EU! \o/
,BeijOsSempRe'