terça-feira, 29 de junho de 2010

A sua garagem

Naquele dia eu perdi todas as esperanças como se fosse incapaz de, sequer querer, lutar por alguém que não fosse você. Pensei em todos os minutos que desperdicei dentro do carro na garagem do seu apartamento pensando em tudo que eu queria te falar, pensando em subir, em me jogar, em, quem sabe, fazer você sentir culpa por aquela dor que eu inventava em mim todas as vezes que a gente se despedia.

No fundo, só no fundo mais fundo de mim, eu queria que você sofresse, muito, eu queria que você se arrependesse de tudo. Mas você não fez nada, você apenas não me amou. Você não merece sofrer e eu não mereço você. Então eu saio com o carro da sua garagem e com o meu coração mole, pulsante e ardente, da sua vida.

Espera, porque você me deixa guardar o carro na sua garagem? Porque o seu porteiro me conhece e para quantos outros porteiros eu vou dar o bom dia mais sincero e gigantesco só por ter passado a melhor noite da minha vida no prédio onde ele trabalha? Você até me deixou dizer que violetas só ficam boas na lavanderia da minha avó e que margaridas combinariam muito mais com o seu apartamento. Eu quase comprei as margaridas. Eu quase amei as violetas, o quadro estranho e a vista pra lugar nenhum da janela do seu banheiro, mas na verdade tudo fazia parte de mar você.

No caminho pra minha casa ainda penso em te ligar para pedir encarecidamente que você nunca mais sorria me olhando assim de lado, demonstrando o quanto você gosta de mim, porque eu abomino esse seu gostar. Abomino que ele me torne idiota o tempo todo e eu abomino que você acredite que gostar seja suficiente. Você promete? Promete que nunca mais vai fazer assim e que a partir de hoje, sem caçoar, você vai me deixar mudar de opinião e amar aquela sua blusa azul que eu tanto odiava. E quero passar a amá-la porque não quero ter que fingir que te odiei diante de todas as blusas azuis que eu ainda encontrar pela frente. Promete que não vai rir de mim?

Deixa pra lá, agora eu só quero ficar sozinha para entender porque eu fui fazer de você a pior besteira de todas e porque isso tudo dói tanto. Eu preciso entender porque é tão difícil aceitar que acabou. Talvez seja porque eu jamais vou conseguir substituir o seu personagem que vive comigo, dentro da minha cabeça, as histórias que um dia eu inventei e nós ainda não vivemos.